22 de mar. de 2020

reciclando textos antigos : Conto de Páscoa

De quem são estas pegadas?

Dedico este conto a Jane Peixoto e sua coelha Felícia e ao Clube de mães do Capão da Porteira.

Fifi estava muito intrigada no Domingo de Páscoa ,enquanto procurava o seu melhor vestido, encontrou algumas pegadas bem pertinho da janela. Tudo estava muito bem fechado, então ela não agüentou e berrou:
- Mãeeeeeeee!Mãe!! - E de longe ouviu:
- O que foi Fifi??- Você está pronta?... Os convidados já estão chegando...
- Estou quase pronta- respondeu Fifi. Só que tem umas pegadas perto da minha janela...
- Pegadas Fifi!!!
- Pegadas, mamãe!!! - disse sem muita paciência, os adultos estavam sempre correndo de um lado para o outro, então resolveu que ela mesma iria descobrir este mistério.
- Fifi!- Gritou do pátio o papai – O Coelhinho da Páscoa passou por aqui esta manhã... Ele deve ter deixado algo para você!
- O Coelhinho da Páscoa?
- Ele mesmo – disse o papai- Agora vista-se e desça!
Fifi colocou o vestido, escovou e prendeu o cabelo e resolveu seguir as pegadas. Ao lado do pé da sua cama estava um lindo ninho cheio de ovinhos e chocolates. Ela adorou , mas continuou muito invocada: como o coelhinho teria entrado no seu quarto se tudo estava tão bem fechado? A mamãe corria para preparar as saladas, o papai varria o pátio e seus irmãos estavam na frente da TV jogando vídeo game. Essa história está mal contada, pensou: três crianças, três cestinhas, pegadinhas só nos quartos. Como o coelhinho conseguia? Fifi resolveu fazer a volta e olhar sua janela de fora , bem que ela pensava, não tinha uma só pegadinha! Nem na varanda, nem no corredor da sala. Que coelhinho malandrinho!! As visitas já iam chegar e Fifi queria resolver este problema. Foi olhando cuidadosamente a cercado pátio, cantinho por cantinho e nada de pegadas. Quando menos esperava ouviu um barulhinho vindo do fundo do quintal...Tictictic!!! Tictictic!! Foi até lá bem devagarinho e sabem o que ela encontrou? Quem vai adivinhar? Deixa eu ver: O enorme cachorro do vizinho cavando? Ou um velho rádio quebrado? Não mesmo! Fifi encontrou uma toquinha!! Quem sabe o que é uma toquinha? Isso mesmo, uma casa de pequenos bichinhos. Seria do Coelhinho da Páscoa? Fifi ficou plantada olhando para a porta da toca. O barulhinho imediatamente parou....
Fifi queria porque queria descobrir quem morava ali. Sua mãe, lá de dentro da casa, chamava por ela. As visitas estavam chegando. Fifi ouviu um sussurro:
- Essa não!
- Quem está ai´?? – perguntou.
- Sou eu! E de dentro da toquinha saiu um lindo coelhinho...
- Você é o Coelhinho da Páscoa?
- Não! Sou Leléco um dos ajudantes dele e estou muito encrencado.
- Encrencado?
- Sim! Seus primos chegaram e não consegui colocar os ninhos... Agora vou ficar de castigo.
- Quem sabe eu posso ajudar, o que preciso fazer?
- Convide todo mundo para ir para a sala e eu entro pela cozinha, que tal?
Uma boa idéia e como vou fazer isso?
- Sei lá... Isso é com você ! Só posso deixar um pequeno rastro de pegadas... Se não perco pontos na minha carteira e perco o passe de coelhinho ajudante.
- Então vamos logo!
Fifi chamou todo mundo na sala, desligou a televisão e disse.
- Eu quero...
- Quer??? Fale logo Fifi! - disse seu irmão muito emburrado. Ele queria voltar a jogar.
- Quero desejar uma Feliz Páscoa para todos vocês e cantar uma musiquinha!Todo mundo olhou para ela, Fifi viu no fundo só a sombra de Leléco passando.
- Bem disse! Vocês vão ter que me ajudar... Todo mundo conhece a música do coelhinho?
- Que bobagem! – disse a sua tia - Claro é muito conhecida.
- Então vamos lá: “Coelhinho da Páscoa que trazes para mim... "
Enquanto todo mundo cantava Leléco cumpria sua tarefa. Fifi piscou para ele e sabia que deveria guardar bem seu segredo. Logo em seguida os primos a suas cestas acharam. E para Fifi, Leléco deixou uma carteirinha carimbada de ajudante de Coelhinho da Páscoa. Será que também serviria para o Papai Noel? Pensou. Mas, logo desistiu da idéia. A festa da Páscoa foi muito linda, passou até um filme com a história de Jesus, para quem quisesse assistir!!!


13 de abril de 2011
Fernanda Blaya Figueiró

26 de ago. de 2018

O Caso Araucária








AS AVENTURAS DE LINNA FRANCO:
O CASO ARAUCÁRIA











AUTORIA: FERNANDA BLAYA FIGUEIRÓ




O caso Araucária.

Linna Franco nasceu com histórias criadas para o Site da Revista Viamão, logo ganhou da escritora Fernanda Blaya Figueiró o Blog: www.linnafranco.weblogger.com.br, idealizado por Lou Salzano.
A personagem é estudante de jornalismo, ciclista amadora, fotografa free lancer e ativista política. Procura praticar uma alimentação natural, mas não se opõe ao consumo moderado de alimentos de origem animal, para ela o mais importante é o equilíbrio, em tudo.
Neste texto encontramos a personagem envolvida com o caso da Araucária, árvore encontrada em abundância no sul do Brasil e que produz um alimento riquíssimo em vitaminas e amido, o pinhão, que sempre foi muito usado na culinária indígena.
Nesta história Linna e um grupo de amigos decide explorar a Mata Atlântica, no município de Maquine, região do litoral do Rio Grande do Sul. No passeio vários fatos acontecem inclusive o sumiço de um dos integrantes do grupo.









O caso Araucária.
Chegando na reserva. I Capítulo.

Linna acordou cedo. Olhou para o relógio: cinco e meia da manhã do último sábado de junho. Precisava correr, pois sairia em poucos minutos para um passeio a Reserva Ecológica Serra Geral, no município de Maquiné. Fazia muito frio, por isso decidiu usar uma meia calça de lã, camiseta e uma blusa. Quase não conseguia fechar a calça jeans, de tanta roupa que colocou.
Chegou no ponto de encontro escabelada, amassada e com um sorriso amarelo nos lábios. Estavam todos lá: Armando, fotógrafo e seu grande amigo. Oscar o professor mais querido e gato do curso de jornalismo, acompanhado de sua esposa Janete e de Tadeu, o filho pré-adolescente deles. As amigas Andressa, a praticinha mais legal que ela conhecia, e Giordana, a “cabeça” da turma. Ela estava sempre ligada em tudo, fazia parte de movimentos pela valorização da cultura negra, dos direitos femininos e de vários outros grupos. Olhou para Linna com olhar de reprovação por seu atraso. Estava lá ainda, Josefina a amiga centenária do grupo, acompanhada de Murilo, seu bisneto.
Haviam reservado cabanas em uma pousada. Estavam levando roupas de cama, lanternas, e algumas provisões, incluindo água mineral e alimentos. Lá era absolutamente proibida a caça, a pesca e qualquer tipo de atividade destrutiva da natureza, bem como eles gostavam.
A turma alugou um micro-ônibus, pois era mais econômico e seguro. Saíram às seis e cinco. Inicialmente o grupo estava um pouco desanimado, sonolento, mas aos poucos o clima foi esquentando. Josefina quase matou todo mundo de tanto rir contando as suas piadas, tão velhas quanto ela.
- Posso contar mais uma? - perguntou ela.
- Chega! - respondeu Murilo.
- Se fosse para ficar quieta e dorminhocando eu ficava em casa! exclamou Josefina, indignada.
- Eu gosto que você conte suas histórias - interrompeu Armando.
- Então eu vou contar a lenda da Gralha Azul.
- Que lenda é essa? - perguntou Gi.
- É uma história muito conhecida no Paraná, mas tem tudo a ver com a Mata Atlântica - Josefina esperou que todos olhassem para ela e começou a contar a história: - Diz a lenda que quando o homem branco veio para estas terras, começou a destruir a Mata, sem piedade... Um dia - continuou ela, notando que o grupo prestava a atenção - uma Gralha Negra, que estava aninhada nos galhos de uma Araucária, foi acordada pelos sons de um machado... Ela conseguiu voar, antes que o pinheiro tombasse sem vida. Olhou para o céu e viu aparecer uma luz muito forte e brilhante. Logo em seguida ouviu uma voz misteriosa, que lhe prometeu que se ela aceitasse a missão de reflorestar a Mata seria tingida de Azul. A gralha aceitou o desafio e passou a cumprir a missão, tendo o corpo coberto de azul como recompensa. Só o seu peito e o bico ficam negros, para lembra-la de sua tarefa. Assim a Mata foi salva da destruição.
- Que linda história Josefina, onde você ouviu? - perguntou Linna.
- Eu, quando era mais jovem, viajei este Brasil inteiro, – respondeu ela - sempre gostei de saber as histórias de cada lugar, essa é uma das que mais me chamou a atenção...Ouvi lá em Curitiba, há muito tempo...
- Dizem que a Gralha Azul é capaz de plantar 3000 sementes por hectare de mata, - explicou Renato, o motorista, que era morador das redondezas - elas costumam enterrar os pinhões, para comer em outra época, e algumas acabam esquecendo onde colocaram. As sementes brotam, sendo uma excelente forma de reflorestamento.
- Hoje as araucárias são protegidas em toda esta região - informou Oscar.
A lenda ficou nos pensamentos de Linna, será que encontrariam alguma Gralha Azul na Mata? Já estavam quase chegando, quando Josefina convenceu o grupo a parar e tomar um lanche reforçado, já que o dia seria puxado.
O café colonial, típico daquela região, contava com vários tipos de pães, cucas, bolos, queijos e embutidos. Era realmente uma refeição para quem ia fazer muito esforço. O maior sucesso era dos sonhos: doces feitos com uma massa frita, coberta com açúcar e recheada com doce de leite.
Josefina comeu apenas algumas frutas e biscoitos. Enquanto os outros se deliciavam com as iguarias, ela foi explorar as redondezas. Comprou várias peças de artesanato feito com folhas de bananeira.
- Vamos, Josefina - chamou Renato.
- Vamos, meu filho, só me ajuda com as compras - disse ela - que estava carregada.
- Sim, senhora. Uma Gralha Azul feita de palha? -indagou Tadeu.
- Isso mesmo, e olha o que eu achei?- Josefina mostrou o que trazia na mão: - Uma pinha!
Linna estava espantada com sua força, correu para ajudá-la, já que estava carregando com uma mão o artesanato e com a outra a enorme pinha, repleta de pinhões.
Acauã o rapaz que vendeu os produtos para Josefina, disse que as sementes estavam no ponto certo para serem consumidas. Bastava debulhar e cozinhar em água com sal. Disse ainda que seu povo costumava comê-las cruas, pois assim mantinham mais as suas qualidades nutritivas.
Linna queria fotografá-lo. Acauã sorriu e pediu a ela que não fizesse isso, já que não gostava de ser fotografado. Ela pediu desculpas, disse que em sua cultura a fotografia tinha a função de guardar lembranças e registrar as coisas. Atribuíam um valor muito alto a ela.
- Mas para quê? - perguntou-lhe o rapaz.
- A gente gosta de olhar depois e lembrar do que fez, os lugares bonitos por onde passou, as pessoas bacanas que a gente conheceu, entende?
- Não! - Acauã falava com muita calma. - Na fotografia não vão aparecer à luz do sol, o perfume da tinta que cobre a gralha, o frio do dia de hoje, nem mesmo esta fumaça saindo de sua boca.
- Mas um pouco destas coisas fica subentendido - disse Linna.
- Nós índios guardamos tudo no coração – falou Acauã sorrindo. - É melhor, pois fica mais bonito e vivo.
- Então tá, não tem problema - disse Linna.
- Vamos fazer assim, - ele pegou um pequeno objeto colorido - eu lhe dou esta flor feita de bananeira e você me dá uma fotografia e vamos ver quem vai lembrar melhor um do outro.
- Tá valendo! - Linna aceitou o desafio.
Ela pegou a flor e deu a ele uma fotografia em que aparecia, durante uma passeata pela paz no parque da redenção. Explicou para Acauã o que as imagens significavam: aquele mar de pessoas vestindo branco e caminhando juntas no parque, num domingo de sol, pedindo um pouco de paz no mundo. Já o jovem rapaz lhe explicou que a flor significava a capacidade de renovação da floresta e a beleza da natureza, ele mesmo tinha feito.
Estavam tão absorvidos pela conversa que mal perceberam que o grupo todo estava parado olhando para eles. Despediram-se e guardaram as relíquias.
Acauã intrigou Linna. Ela teve a impressão inicial de que falava com uma pessoa embrutecida, mas logo viu que era culto e bem articulado, diferente do que os seus padrões culturais esperavam de um homem criado na mata. Armando riu, disse que ela sempre tinha um pré-conceito acerca de tudo. Ela primeiro julgava as pessoas conforme modelos, para depois conhecê-las.
- Pelo menos eu sou flexível - ela respondeu claramente numa posição defensiva.
- Isso é verdade, você costuma mudar os conceitos e refletir sobre as coisas - Falou Oscar, ele conhecia Linna muito bem, pelos seus textos e trabalhos da faculdade.
- Quer saber - interrompeu Gi - achei Acauã lindo!
- Eu também - falou Josefina. E mais, achei galanteador.
- Já entendi... Vocês vão querer bancar uma de Cupido para o meu lado.
Linna riu e fez um sinal para as duas deixá-la em paz. Mas na real tinha ficado impressionada com ele. Guardou a pequena flor no bolso interno da japona.
- Chegamos! - anunciou Renato.
O lugar era indescritivelmente lindo, uma trilha levava a uma clareira no meio da Mata Atlântica, com algumas cabanas de madeira, totalmente integradas a paisagem.
Pauline, uma garota muito simpática, veio recebe-los, estava de responsável pela pousada. Conforme eles haviam reservado Armando e Murilo ficaram nas barracas; já, Josefina, Linna, Andressa e Giordana em uma cabana e Oscar, Janete e Tadeu em outra.
Havia outros grupos visitando a pousada, Pauline logo fez as apresentações, informou as normas da reserva que eles iriam visitar e disse que seriam o único grupo a fazer o passeio. Pediu para que todos guardassem suas coisas e encontrassem com o guia. Deviam levar alguma coisa para comer, água e lanternas. Ela distribuiu sacos para que cada um recolhesse o seu lixo e trouxesse de volta.
Acauã chegou carregando uma mochila e se apresentou como o guia da expedição. O sentimento do grupo foi de pura alegria, já que todos tinham adorado ele.
Josefina não quis fazer a caminhada, preferiu ficar na cabana, pois, queria cozinhar os pinhões e procurar chás e ervas terapêuticas. Ela não tinha mais idade para fazer exercícios pesados, ficou com Pauline e os outros hóspedes, assim o grupo partiu sem preocupações.
- Acauã, quanto tempo mais ou menos vamos levar? Perguntou Gi.
- Vai depender de vocês - ele disse. - A reserva é grande, podemos ficar o dia todo, só devemos nos preocupar em estar de volta antes do sol cair, por causa do frio.
- Você sabe se existe alguma Gralha Azul por aqui? - perguntou Tadeu.
- Sim. São bastante comuns nessa região - ele respondeu.
- Josefina nos contou uma lenda sobre elas - disse Tadeu. Eu queria ver uma.
- Eu conheço a lenda... Mas não sei se veremos alguma, pois costumam ficar nas copas das araucárias - Acauã chamou a atenção deles e deu algumas orientações. - Bem, eu quero pedir para que todos fiquem atentos a mim, a reserva é grande e a vegetação muito parecida. Procurem não se afastar e se alguém precisar parar informe aos outros. Alguém tem alguma dúvida? - ele perguntou.
- Posso fotografar a paisagem? - perguntou Linna.
- Pode - disse Acauã, com um sorriso malicioso. Ele sabia que a pergunta era irônica.
Acauã pediu para que formassem pares, assim cada um se responsabilizava por um companheiro, isso facilitaria o controle. Linna ficou responsável por Tadeu, Oscar por Janete, Gi por Andressa e Murilo por Armando e vice-versa. Acauã andava na frente e só parava quando alguém lhe perguntava alguma coisa.
Ao longo da caminhada a paisagem foi ficando cada vez mais deslumbrante. Envolvida pela mata densa, a luz do sol mal passava entre as folhas, formando alguns poucos feixes de luz. O frio parecia subir pelas pernas, todos estavam bastante agasalhados, mas mesmo assim sentiam o ar gelado e úmido. Os sons da mata eram impressionantes: pássaros, bugios, água correndo... Tadeu observava tudo, mostrou para Linna uma pequena fonte que corria entre as pedras como uma cachoeira, nela a luz do sol tinha formado um arco íris. Os dois pararam alguns minutos para fotografar e Acauã fez o grupo todo parar.
- Hei! Vocês lembram que não devem parar sem avisar?
- Já vamos - respondeu Tadeu.
- Desculpa, foi só uma paradinha - disse Linna. - Tadeu gostou muito do Arco Íris e eu quis registrar.
- Guarda no coração Linna... - brincou Acauã. Se vocês ficarem para trás vamos nos atrasar.
- Olha! - Armando apontou para o alto de uma Araucária. - Duas Gralhas Azuis.
- Oba! Foi fácil de encontrar, exclamou Tadeu. Elas são pequenas, achei que fossem bem maiores.
O garoto estava deslumbrado, estavam embrenhados na mata e as duas aves pareciam se exibir para eles.
- Consegui uma imagem ótima delas - informou Armando.
- Que barulho é esse? - perguntou Linna.
Ouviram um som compassado, como se fosse o de uma pessoa quebrando galhos.
- Deve ter outros grupos por aí! Vamos em frente, determinou Acauã.
Gi e Andressa pediram para parar um pouco, o ar estava ficando mais rarefeito na medida que subiam a serra. Andressa tinha asma e usou um inalador para poder continuar. O ritmo da caminhada desacelerou, estavam ficando cansados. Tadeu que tinha apenas onze anos estava mais inteiro que todos, corria na frente, subia em pequenos obstáculos, era acostumado a fazer trilha. A diversidade da flora e da fauna tornava a caminhada muito interessante.
Acauã seguia por algumas “picadas” e conhecia bem o caminho. Tadeu disse que deveria ter deixado marcas para saber voltar. Lembrou da história de Joãozinho e Mariazinha, um conto de fadas, no qual as crianças ficavam perdidas na floresta, pois deixavam pedaços de pão para marcar o caminho e os pássaros comiam tudo.
- Imagina se agente se perde? - indagou ele.
- Calma Tadeu, eu conheço bem o caminho, mas caso você se perca é só seguir a trilha de volta – respondeu Acauã.
- Mas, tem várias trilhas - Tadeu ponderou.
- Tem mesmo - disse Acauã - mas a principal é mais larga e se você notar bem o caminho é de terra, não tem quase vegetação.
- Nós passamos pela fonte - disse Tadeu - pelas pedras pontudas e agora por esta ponte.
- O pessoal chama estas pequenas pontes de pinguela, informou Acauã.
- Não parece muito seguro, disse Armando.
- Não precisa ter medo de atravessar, estas pontes são firmes - afirmou o guia.
Acauã passou na frente e foi ajudando um por um. A pinguela era uma pequena ponte feita de torras de madeira, presas com cordas. Era flexível, o que dava a impressão de ser pouco segura. Em baixo dela passava um córrego, Acauã não quis deixar Tadeu com medo, mas havia muitas trilhas, pinguelas, quedas d’água, pedras pontudas... Ele conhecia bem a mata, mas para quem não conhecia as armadilhas eram muitas.
Já era quase meio dia quando chegaram ao rio Maquiné, uma das atrações do passeio. Lá descansariam por um tempo, almoçariam e depois retomariam a caminhada.
- Que lugar! Exclamou Murilo, ele tinha estado quieto o caminho inteiro.
Acauã disse que eles podiam ficar a vontade, desde que não se afastassem muito.
- É mesmo lindo, interrompeu Linna. Que estranha à cor da água, quase verde de tão limpa.
- Pois é. As fontes do rio estão a quase mil metros de altitude, a água brota límpida e abundante das fendas da Serra Geral - informou Acauã.
- Nós vamos ir até a fonte? -perguntou Oscar.
- Não sei, saímos muito tarde do acampamento e o grupo é meio despreparado para caminhar tanto – Acauã sabia dos desafios de subir até as fontes.- A minha idéia é leva-los até um pedaço e retornar, mas vocês podem decidir.
- Primeiro nós precisamos descansar, falou Andressa.
- Eu concordo, disse Janete, vou preparar o almoço do Tadeu, ele come feito um maluco, com essa caminhada deve estar faminto...
- Podemos almoçar todos juntos - disse Linna - eu trouxe quiche de palmito, nozes e castanhas. Dizem que quando a gente caminha muito deve comer alimentos energéticos.
- Vamos fazer uma grande mesa, disse Armando.
Enquanto organizavam o almoço Tadeu chamou Acauã e mostrou que na outra margem do rio havia algumas pessoas. Ele acenou para o grupo e perguntou como estavam indo. Uma jovem respondeu que estava tudo bem. Acauã apresento-a para Tadeu, disse que se chamava Moema.
- Moema? O seu grupo não quere se juntar a nós? Perguntou Acauã.
- Não. Estamos indo pras fontes, eles querem chegar lá logo - respondeu ela. Aqueles outros homens estão no seu grupo? - Moema apontou para um grupo que caminhava para dentro da mata.
- Não, nunca tinha visto eles. Por que?
- Achei uns grosseiros, não nos cumprimentaram, estão carregando mochilas pesadas... Parecem caçadores.
- Aqui! Os guardas florestais não teriam deixado entrar. Mas vou prestar atenção - disse Acauã. Meu grupo só vai até um pedaço, uma das meninas tem asma o que dificulta a subida e uma senhora ficou esperando por eles no acampamento. Vamos regressar logo.
- Eu só desço bem no fim da tarde. Tchau!
- Tchau! - responderam ao mesmo tempo Acauã e Tadeu.
Moema acenou e continuou subindo a serra com seu grupo, caminhavam rápido.
- Como ela é linda, é sua namorada Acauã? – perguntou Tadeu.
- Não, minha irmã - ele respondeu.
- Será que ela gostou de mim? – insistiu o garoto.
- Opa! Tira o olho, baixinho.
- Calma, cunhado.
- Que história de cunhado é essa? Perguntou Linna, se aproximando dos dois.
- Linna! Conheci uma Deusa- disse Tadeu - Moema, a deusa da luz...
- Mas que pia abusado – brincou Acauã - correndo com ele. Volta aqui, vamos esquecer isso... É só brincadeira.
- Quem é Moema? - perguntou Linna.
- Minha irmã. Lá vai ela. - Acauã apontou para a outra margem do rio, Moema já estava longe.
- Sabe que você quase acertou o significado do nome dela, disse Acauã para Tadeu.
- E qual é? -perguntou Linna.
- Moema significa: Aurora.
- E Acauã? - perguntou Tadeu.
- Ave que ataca serpente - Ele respondeu, num tom bastante sério.
- Então não precisamos ter medo de nada, brincou Linna.
Eles se juntaram ao resto do grupo e fizeram uma ótima refeição, enquanto trocavam as experiências sobre a caminhada. Acauã comentou com Linna que Moema tinha visto um grupo estranho, estavam explorando a Mata sem um guia e pareciam um pouco mal humorados. Acauã pediu a ela que ficasse mais atenta a Tadeu, pois ele era muito curioso e vinha se afastando do grupo. Linna disse que ele podia contar com ela e que tinha visto os homens.
Depois do almoço Linna sentou na margem do rio e ficou observando as pedras e a correnteza, pequenos peixes nadavam tranqüilamente em cardumes. A água era tão limpa que dava para ver o fundo, estava muito frio, mas ela decidiu tirar os sapatos e colocar os pés na água. Sentiu um arrepio de tanto frio. Mas também sentiu a magia da água. Acauã sentou com ela e perguntou se estava gostando do passeio.
- Estou adorando - Linna respondeu. È muito bom estar aqui...
Linna puxou o pé com rapidez, soltando um pequeno grito.
- Uma sanguessuga! - ela disse.
- Deixa que eu tiro, disse Acauã segurando o pé de Linna. Ela não faz mal nenhum – ele completou.
- Eu sei - disse Linna- não é a primeira fez que piso num rio.
Acauã puxou a sanguessuga de uma vez, ainda não tinha grudado totalmente na pele de Linna, que tratou de calçar os sapatos e não inventar mais nada.
- Acho que devemos seguir, já estão bem descansados? Perguntou Acauã.
- Claro, disse Armando, eu quero muito chegar na Araucária.
- Eu já estou pronta - disse Gi. Vocês ouviram um estampido agora a pouco?
- Eu ouvi, disse Murilo. Parecia um foguete.
- Eu não ouvi nada, disse Acauã.
- Foi bem na hora que a Linna gritou que tinha uma sanguessuga no dedo dela - respondeu Tadeu.
- Deve ter sido o outro grupo – informou Acauã - A Moema me falou sobre eles, são um pouco estranhos. Se alguém ouvir mais alguma coisa eu contato os guardas da reserva.
- O celular funciona aqui? -perguntou Andressa.
- Não. Mas eu tenho um transmissor de rádio. Todos os guias têm, estamos sempre em sintonia.
Acauã foi levando eles para a parte mais densa da mata, os animais começaram a aparecer com uma freqüência maior. Pacas, lebres, lagartos, muitas borboletas e aves de várias cores, tamanhos e formas.
O grupo caminhava em silêncio, aos poucos estavam totalmente absorvidos pelos sons da mata. Linna começou a entender o que Acauã tinha falado sobre a fotografia. Pois nada podia superar a sensação de estar ali. Nenhuma imagem podia revelar todo aquele mistério. Suas pernas começavam a pesar, sentia cada passo como se estivesse com sapatos apertados. Eles ouviram um novo estrondo e Acauã gritou que não precisavam se preocupar, pois era apenas uma trovoada. O tempo estava mudando rapidamente, começava a ventar. Linna observou que os animais corriam para as tocas, os pássaros voavam para a copa das árvores, como se estivessem se preparando para a chuva.
Pouco depois chegaram a uma clareira onde havia uma enorme Araucária. A sensação foi fascinante. A árvore parecia uma rainha em seu palácio, seus galhos mais altos formavam um cálice, era muito bonita. Armando e Linna a fotografaram de vários ângulos. O grupo todo ficou muito satisfeito em ter chegado até lá.
O vento derrubou uma enorme pinha, que quase caiu na cabeça de Andressa, Gi puxou a amiga a tempo. Acauã pediu para ninguém recolher, pois toda aquela área era de preservação. E os pinhões serviam para alimentar os animais. Eles ficaram um tempo observado a Grande Araucária e Acauã convidou-os para retornar, já que o tempo estava mudando muito rápido.
Linna e Tadeu viram uma gralha azul descendo até o chão e recolhendo com o bico um pinhão, logo ela levou para um outro lugar bem próximo e enterrou a semente. Eles ficaram bem quietinhos observando. O vento zunia nos ouvidos. Acauã levou o grupo para um patamar formado por algumas rochas e eles descobriram que haviam subido muito. O vale estava longe. A Vista era linda, valia a pena estar ali!
A descida foi sem muitos sustos, só tiveram que apurar, pois os trovões e relâmpagos aumentaram muito. Podiam ver que já chovia em algumas partes, o vento empurrava os pingos e a água caia como se fosse uma cortina. Aos poucos foram atingidos por pingos grossos e gelados de chuva.
Eles chegaram ao acampamento encharcados, mas sem nenhum aranhão. Oscar e Janete correram com Tadeu para o chuveiro, precisavam de um banho quente.
Linna agradeceu muito à Acauã, tinha adorado o passeio e entendido um pouco a sua filosofia. Ele disse que também tinha entendido o quanto à fotografia era importante em sua vida. O cuidado com que ela escolhia as imagens e até todo o ritual que ela fazia.

- Eu queria pedir desculpas a você Linna, disse Acauã. Por não ter permitido que me fotografasse hoje cedo.
- Bobagem, eu fui intrometida, nem lhe conhecia e já queria fotografá-lo, como se você fosse parte da paisagem, respondeu ela.
- È que eu fico um pouco “desconfiado”, pois tem algumas pessoas que acham que nós índios somos objetos e não pessoas – confidenciou o rapaz – acabam ridicularizando com a gente.
- Eu sei, disse linna. Você não tinha como avaliar quais eram as minhas intenções. Na verdade eu devo lhe pedir desculpas. Mas agora já podemos nos considerar como amigos? – perguntou Linna, estendendo a mão para ele.
- Claro - respondeu Acauã, estendendo a mão para ela. Agora eu preciso ir, pois estou congelando com essas roupas molhadas.
Pauline pediu para que Acauã ficasse, lhe conseguiria roupas secas. Moema e o seu grupo não haviam retornado. Ela estava ficando preocupada tinha tentado contato pelo rádio desde o início da chuva, a pedido do pessoal da pousada em que estavam hospedados.
- Calma! Eu fico, mas ela me disse que o grupo queria chegar nas fontes. Encontramos com eles ao meio dia, mesmo todos sendo atletas, devem ter demorado a chegar lá.
- Não sei, é que me bateu um pressentimento... Disse Pauline.
- Pauline, a Josefina ficou bem? Perguntou Linna.
- Nem sei, aconteceu tanta coisa. Eu a vi colhendo alguns chás e umas ervas. Depois entrou para a cabana e não saiu mais.
Linna entrou e foi para o banho, Andressa e Gi estavam prontas. Elas haviam reanimado o fogo do fogão à lenha. Um caldeirão estava sobre a chapa com os pinhões, quase cozidos. Mas nada de Josefina. Uma pequena chaleira contendo ervas e água exalava um aroma maravilhoso de chá.
Linna saiu do banho, vestiu uma roupa quente e colocou sua japona para secar perto do fogão, no bolso encontrou a flor que Acauã havia lhe dado. Por sorte o tecido de sua japona era impermeável e a chuva não molhou a flor e nem seus documentos. Colocou tudo de volta no bolso. Usou um cobertor para sair na rua e procurar por Josefina.
Pauline estava na recepção da Pousada com Acauã e Murilo. Linna chegou procurando por Josefina, todos olharam para ela.
- Ela não está na cabana? Perguntou Pauline.
- Não - respondeu Linna - até o fogo do fogão à lenha estava apagado, Gi teve que reascender.
- Que estranho, eu vi ela entrando e achei que fosse dormir – disse Pauline.
- Que horas foi isso? Perguntou Acauã.
- Faz tempo, foi antes da chuva. Um grupo de homens passou por aqui, vinham correndo da mata, e pediram um pouco de gasolina. Disseram que precisavam voltar por causa de uma emergência e estavam sem gasolina.
- Como eles eram? - perguntou Acauã.
- Altos, usavam roupas de safári, umas mochilas enormes, não eram meus hóspedes.
- Os homens que nós vimos na mata, que pareciam caçadores - disse Acauã. Um deles tinha uma serpente tatuada na mão?
- Tinha - respondeu Pauline. Com olhos vermelhos.
- Meu deus! Será que aconteceu alguma coisa com a vovó? -Murilo sentou, ficou apavorado só de pensar nesta possibilidade.
- Vamos chamar os Guardas - interferiu Acauã.
- Deixa comigo, o Eliseu esteve aqui logo depois disso - falou Pauline - ele deve estar por perto.
- O que ele queria? - perguntou Acauã.
- Estava atrás de uns caçadores - respondeu Pauline - vai ver que eram os caras que passaram aqui.
- Mas, o que a Josefina teria com isso? - perguntou Acauã.
- Vocês não conhecem a Josefina, se ela desconfiou de alguma coisa deve ter se metido. Ela é muito audaciosa- disse Linna.
Linna e os outros ficaram bastante preocupados, Acauã foi até as barracas e cabanas e chamou todo mundo. Armando disse que achava que havia fotografado os caras.
Tadeu lembrou que um deles mancava de uma perna e que parecia carregar algo muito pesado. Oscar e Janete não tinham percebido nada e Gi e Andressa nem tinham visto eles, mas lembraram de ter ouvido um estampido forte, como o som de um foguete, ou... Um tiro!
- Será? - disse Tadeu. - Eu achei que fosse um trovão.
- Os trovões demoraram um pouco para começar, disse Acauã. Enquanto os guardas não chegam, acho bom a gente formar grupos de busca. Ela pode ter se perdido na Mata, ou ter se abrigado da chuva em algum lugar.
- Boa idéia, disse Linna. Por onde começamos?
- Quem sabe pelas plantas que ela coletou. Eu e Linna vamos até a cabana. Gi e Andressa chamem o Renato, ele pode dar uma volta de Micro pelas redondezas, ir até a estrada. Seria bom checar no café onde vocês pararam hoje pela manhã, já que é bem perto daqui.
- E eu? - perguntou Pauline.
- Você fica aqui e espera por Moema e o grupo e tenta contato com as outras pousadas. Armando e Murilo revejam as fotografias e vejam se conseguem novas pistas. Tadeu e Janete cuidem do rádio e olhem bem todas as cabanas.
- Acho que seria bom o Oscar vir conosco - falou Linna.
- Eu também acho - respondeu Acauã.
O grupo se dispersou, cada um foi fazer a sua atribuição. Linna, Oscar e Acauã começaram por dar uma olhada criteriosa na cabana.
- Pauline disse que viu Josefina entrando na cabana - refletia Acauã em voz alta - nós precisamos procurar algum vestígio...
- Olha isso! - Oscar mostrou um punhado de ervas caídas no chão.
- Ela devia estar fazendo o chá e deixou cair - Acauã pegou as folhas, cheirou e disse - camomila, erva cidreira, hortelã são todas ervas comuns, ela deve ter pegado aqui perto.
- Olha o tamanho desta marca - Linna mostrou uma marca de barro no chão.
- Não pode ser da Josefina. É maior que o meu sapato - Oscar colocou o pé ao lado da sujeira.
- E parecem ser de um coturno, disse Acauã. Alguém entrou aqui!
- Será que levaram Josefina? Linna estava agitada.
Neste momento Eliseu, o guarda florestal, veio falar com eles. Pauline tinha ficado no rádio tentando contato com Moema e seu grupo. Ele ficou intrigado com o fato de Josefina ter cem anos, achou que não era o lugar ideal para uma pessoa de tanta idade.
- Mas ela é super ativa, vive bem, costuma fazer longas caminhadas no parque -respondeu Linna.
- Ela por acaso não tem lapsos de memória? Perguntou Eliseu.
- Não, a Josefina é muito lúcida – informou Linna.Ela nem parece ser tão idosa.
- Com que roupa ela estava? - perguntou o guarda.
- Um conjunto de calça e blusa de moletom azul, um casaco preto, e um tênis azul. Acho que era assim.- disse Linna.
- Vocês têm alguma foto dela?
- Sim, eu tenho. Essa eu tirei há poucos dias, no seu aniversário - Linna alcançou um postal que ela tinha montado com várias fotos de Josefina, usando as imagens da festa de seu aniversário.
- Nossa só tem figurões, até um deputado - disse Eliseu, franzindo a testa.
- A família dela é muito tradicional em Porto Alegre, são todos conhecidos e respeitados, informou Linna.
- E eles sabem que ela estava aqui? - perguntou Acauã.
- Sim, o Murilo é bisneto dela - respondeu Oscar- ele informou aos outros parentes, mas por que?
- O senhor acha que alguém pode ter vindo atrás dela? - perguntou Acauã.
- Nunca se sabe. Hoje à tarde nós recebemos uma denúncia de que havia caçadores na mata, fomos até lá e não encontramos mais eles... Agora eu vi umas fotos feitas pelo colega de vocês e nelas aparece um grupo de pessoas suspeitas, mas que nós nunca tínhamos visto por aqui... Normalmente os caçadores são sempre os mesmos. A gente prende, mas logo eles estão soltos e voltam a agir.É raro ter gente de fora por aqui.
- Isso é verdade, interrompeu Acauã. Só que eles sabiam andar na mata. A Moema estava de olho neles e por falar nela, o grupo ainda não retornou?
- Ainda não - respondeu Eliseu.
- Então eu vou voltar pra mata, está muito frio. Eles não podem passar a noite lá, disse Acauã.
- Eu posso ir com você? - perguntou Linna.
- Vamos manter a calma - Eliseu falou em tom preocupado - pelo jeito as histórias estão cruzadas. A Moema fez contato conosco, informou sobre os suspeitos... Nós estivemos na cola deles... Eles passaram por aqui, pediram gasolina para Pauline e a Josefina sumiu... Pelas marcas no chão pelo menos um deles entrou nesta cabana.
Eliseu estava com razão, os fatos se encaixavam, tanto Moema e seu grupo quanto Josefina podiam estas nas mãos de estranhos.
- Tá e daí? - perguntou Linna.
- O que adianta vocês entrarem na mata sem saber onde procurar - ponderou Eliseu.
- Mas eu sei onde a Moema costuma ir. O grupo dela era de esportistas, já tinha que ter voltado há muito tempo - Acauã estava nervoso, pois já anoitecia.
- Bom neste caso levem algumas lanternas, dois rádios e pelo amor de Deus mantenham contato, por que eu não posso me preocupar mais ainda. Vai vir reforço do corpo de bombeiros, mas cuidem-se.
- Linna pegue algumas cordas e use o seu casaco, a chuva está diminuindo, mas vai esfriar. Você tem certeza de que tem forças para caminhar bastante?
- É claro Acauã, eu sou ciclista, estou treinada, disse Linna.
- E eu? - perguntou Oscar.
- Fique com o Eliseu - disse Acauã - se o grupo ficar muito grande perdemos a velocidade. Vamos Linna?
- Vamos! – ela respondeu.
Eles se separaram, Linna e Acauã voltaram para a mata, os desafios que encontrariam eram bem maiores. Sem a luz do sol teriam que utilizar as lanternas e o frio ficava muito mais intenso.







De volta a Mata Atlântica. II Capítulo

Acauã e Linna entraram na floresta por um atalho, caminhavam rápido e com exatidão. Em meia hora estavam na margem do rio, no local exato em que haviam encontrado com Moema.
- Como nós atravessamos o rio? -perguntou Linna.
- Nesta parte o rio é bem estreito, lembra que nós atravessamos uma pinguela antes?
- Sim - ela respondeu.
- Nós que tínhamos cruzado um pequeno afluente que desemboca no rio, explicou Acauã. Foi aqui que nos encontramos.
- Isso. E a Moema apontou para lá... Onde os outros estavam.
- Depois ela subiu para as fontes e eles? - indagou Acauã.
- Subiram também, na hora que você me mostrou a Moema o outro grupo seguia na mesma direção.
- Tem certeza? Será que não estavam voltando.
- Não. O Tadeu disse que um deles estava mancando ou carregava uma coisa pesada, mas estavam subindo a serra.
- A chuva já deve ter apagado as marcas – concluiu ele.
Acauã focou a lanterna no chão, estava muito escuro para que conseguissem ver alguma coisa, um tatu passou correndo por eles. Linna pisou em um objeto e caiu. Acauã ajudou-a a se levantar e viu que ela havia pisado em um mapa, que estava dobrado, amassado e molhado. Analisando o mapa eles encontraram um sinal marcando a clareira da Grande Araucária.
- Vamos para lá – falou Acauã. Você está bem Linna?
- Sim, só sujei a roupa. Eu não os vi na Araucária.
- Nem eu, mas podem ter ido para lá depois. Vou avisar o Eliseu.
Acauã fez contato com o guarda florestal usando o rádio, falou do mapa e da intenção deles de ir até a Araucária, Josefina ainda não tinha sido encontrada e nem Moema havia voltado. Eliseu pediu para que eles tomassem cuidado, um helicóptero dos bombeiros estava vindo para ajudar na busca, os amigos e familiares deles já estavam na pousada.
A noite estava escura e a chuva bem fininha. Logo eles chegaram até a Araucária. Linna notou que a pinha que eles tinham visto não estava mais no chão. Em vez disso havia embalagens e restos de comida espalhados.
- Que sujeira! Moema jamais deixaria um grupo fazer isso - disse Acauã.
- Devem ter sido os caras. Acauã, olha! Linna apontou para uma caixa.
Ele focou a lanterna e se aproximou, dentro da caixa, um bugio estava preso e assustado. Eles soltaram a tampa e viram que se tratava de uma fêmea com dois filhotes. Linna ficou furiosa, os animais estavam famintos e mal tratados. Mesmo com a caixa aberta não saíram de lá.
- Coitados há quanto tempo não estarão ai?- exclamou Acauã.
- Que tipo de gente faria isso? - questionou Linna.
- Um tipo capaz de tudo por dinheiro. Muito comum por sinal - respondeu Acauã.
Acauã pegou a mamãe com carinho, Linna segurou os filhotes, tinha algumas amêndoas na mochila e ofereceu a eles. A fêmea pegou, cheirou, provou e só então deu aos pequenos, eles comeram esfomeados, logo buscaram o peito da mãe rindo e fazendo brincadeiras. Acauã fez novo contato com os guardas e informou as barbaridades que haviam presenciado. Eliseu pediu a eles que trouxessem os animais, pois eles poderiam se tornar presas fáceis já que estavam debilitados.
Acauã usou a camisa para enrolar a família nas suas costas, não queria perder tempo, os filhotes ficaram bem agarrados à mãe e ela por sua vez ficou imóvel junto ao corpo dele. Demonstrando uma confiança muito grande.
- Devia ser esta caixa que eles carregavam, falou Linna.
- Não sei, eles deviam estar atrás do leão baio, que vale muito mais. Devem ter deixado os bugios para buscar depois... Eu fico imaginando o que pode ter acontecido com Moema e o grupo.
- Acauã e se nós soltássemos um daqueles sinalizadores será que eles não nos veriam? sugeriu Linna.
- Sim. Mas e os animais? – Acauã temia que o estampido provocasse um ataque de algum animal contra eles - Eles podem se assustar, você não tem medo?
- Eu sei me cuidar, disse Linna. Vou subir aquele patamar de pedras e solto dali...
- Pode ser, eu fico aqui com a Princesa e os filhotes.
- Princesa?- indagou Linna.
- Ela morra perto da minha tribo, eu conheço bem este olhar, é inconfundível.
- Por isso que ela confiou em você.
A macaca sorriu para Linna e tapou os olhos com a mão, como se concordasse com ela. Linna subiu o patamar e soltou o sinalizador.
Logo ouviu o som compassado que parecia uma pedra batendo em um toco de madeira. Acauã subiu no patamar e gritou com todas as suas forças: Moema! Moema! O silencio foi interrompido pelo som dos animais. Logo ouviram claramente ela responder: Aqui! Acauã! ... Na cachoeira.
- Calma, estamos indo! Ele gritou novamente.
- Eles não parecem estar muito longe, disse Linna. Devemos informar os guardas.
- É bom, assim se acontecer algo eles vão saber onde estamos.
Acauã fez um novo contato, Eliseu ficou contente em saber que Moema tinha respondido, perguntou se eles não queriam esperar a ajuda. Mas eles resolveram seguir logo, queriam encontrar Moema.
- Linna, agora eu preciso correr, disse Acauã. Será que você me acompanha?
- Claro. Não se preocupe comigo estarei logo atrás de você.
- Tenha muito cuidado por que eu vou usar um atalho, procure pisar com firmeza, mais evitando as raízes e troncos de árvores.
- Ok, Linna respondeu.
Acauã entrou na mata fechada, Linna tratou de imitar cada movimento que ele fazia. Princesa e os filhotes estavam grudados a seu corpo. A mata densa dificultava bastante a caminhada. Os animais corriam assustados por onde eles passavam Linna foi ficando para trás, Acauã caminhava muito rápido.
Ela não quis chamá-lo, mas o medo foi aumentando, por alguns minutos se viu só e envolvida pela mata. Seu coração disparou, a escuridão tomava conta de tudo, sentiu um peso nas pernas, o cansaço começava a tomar conta de seus músculos. Não parou, continuou procurando escutar o barulho dele e nada. As árvores tinham troncos grossos e entrelaçados. Linna não sabia para que lado ir, subiu nas raízes de uma árvore e viu uma coruja sentada olhando para ela. O pio da ave arrepiou Linna. Apertou a Japona e sentiu a flor de folhas de bananeira. Neste momento gritou por ele:
- Acauã! Acauã!
Sentiu um puxão no cabelo, princesa batia em suas costas. Ela viu que Acauã estava imóvel a poucos passos dela, fez um sinal para que ficasse em silêncio. Um leão baio estava caminhando pesadamente entre as plantas. Parecia buscar um lugar tranqüilo para deitar. Linna sentiu a mão de Acauã puxando-a bem lentamente, os dois ficaram juntos e esperando o leão se distanciar.
- Agora podemos seguir, disse Acauã.
- Põe a mão no meu peito, olha o meu coração? - Linna estava em pânico.
- Toma um pouco de água, seu coração parece que vai pular fora... Você está tremendo, nunca tinha visto um leão baio antes?
- Assim, no meio da mata e tão pertinho, não. Mas a pior sensação foi achar que eu estava perdida. A escuridão, os olhos da coruja... Fiquei apavorada.
- Eu não ia te deixar, não se preocupe. Agora precisamos sair daqui.
- Posso segurar a tua roupa? -perguntou ela.
- Só não vai me puxar,já chega a Princesa pesando – Acauã entregou uma corda que trazia amarrada ao corpo para ela.
- Eu só não quero ficar para trás de novo. Falta muito?
- Não, você não está ouvindo?- indagou Acauã
- É o som da cachoeira?
- Sim, estamos quase chegando - disse ele - mas não faça barulho, tem muitos animais aqui.
Linna e Princesa mantiveram o máximo de silêncio. Acauã subia e descia por troncos, raízes, pedras, com uma agilidade enorme. Saltou um pequeno córrego, puxando Linna logo em seguida.
Quando estavam próximos da cachoeira, Acauã diminuiu o ritmo, aproximando-se com cuidado, manteve a lanterna desligada, para avaliar se estariam em segurança. Princesa apontou para o tronco de uma árvore, no qual Moema estava amarrada. Eles correram em seu socorro.
- O que aconteceu? - perguntou Linna.
- Você está bem, eu os outros? – perguntou ansioso Acauã, enquanto desamarrava a irmã.
Moema estava exausta, com a roupa molhada, os braços e as pernas amarrados.
- Que bom que você está aqui. Eu quase morri de medo, disse ela.
- Vai ficar tudo bem - Acauã a abraçou e viu que estava gelada - nós vamos leva-la para casa.
- Os caçadores atacaram nosso grupo. Eu consegui fugir, mas eles me perseguiram e me amarraram aqui - Moema estava perturbada queria falar logo tudo o que havia acontecido - Nós estávamos voltando, a chuva estava muito forte. Eles estavam atrás de um leão baio...
- Quantas pessoas havia no seu grupo? Perguntou Acauã.
- Sete - respondeu Moema, - mas eu tive a impressão de que um deles conhecia um dos caçadores.
- Por que? - perguntou Linna.
- O Boy, como os outros o chamavam, parecia estar deixando marcas no caminho. Até falei várias vezes que não era preciso, mas ele quebrava as árvores e fazia um sinal com uma tinta, quando nos atacaram vi ele cochichando com um dos caçadores...
- Ele pode ter se infiltrado no teu grupo para ter um guia na mata e mostrar o caminho para os outros - ponderou Acauã.
Acauã soltou Moema, fez contato com o guarda florestal que informou que estava com a lista com os nomes dos integrantes do grupo de Moema. Estavam inscritos somente cinco rapazes, os outros, segundo o responsável pela pousada onde eles estavam hospedados, haviam entrado na excursão na última hora e suas identidades eram falsas.
Moema pediu para Acauã procurar os rapazes, por que eles não sabiam se virar na floresta. Eliseu queria que eles retornassem e esperassem o dia amanhecer.
- Mas até o amanhecer pode ser tarde para eles – disse Moema, ela estava angustiada.
- Se você ficar assim pode ser tarde para você, seus lábios estão azulados de tanto frio, disse Linna.
- Ela tem razão - interrompeu Acauã - coloque o meu casaco, você tem que se aquecer o mais rápido possível.
- Faça uma fogueira. Nem seria seguro voltar agora, disse Moema. Que horas são?
- Quase uma hora - respondeu Linna.
- Ainda tem algum daqueles sinalizadores? - perguntou Moema.
- Sim, respondeu Acauã. Eu vou soltar um.
- Linna pegue alguns gravetos, procure os mais próximos dos troncos e que estejam mais secos - solicitou Acauã.
- Pode deixar, respondeu Linna. Moema segura a Princesa, o pêlo dela vai ajudar a lhe aquecer.
- Isso! Vai Princesa - Acauã soltou a macaca e os filhotes no colo de Moema. Princesa se abraçou a ela, como se entendesse a intenção deles.
Ele entrou em contato com Eliseu e informou que Linna e Moema fariam um acampamento e que ele iria buscar o resto do grupo. Com os gravetos que Linna buscou fez uma fogueira. Logo em seguida soltaram outro sinalizador, em poucos minutos ouviram um som longínquo.
- Serão eles? – perguntou Linna.
- Devem ter visto o sinalizador – indagou Acauã.
- E se foram os caçadores? Disse Moema.
- Não pode – respondeu Linna - Pauline viu os caçadores na pousada no meio da tarde.
- Como eles se chamam Moema? - perguntou Acauã.
- Só sei os apelidos: Boy , Bil , Esquilo, Gaudério, Magrão, Topeira e Fred.
- Nossa, disse Acauã. Que nomes!
- Chama pelo Tamoio que é o nome do clube deles, disse Moema.
Linna ficou junto com Moema, próximo a fogueira, ofereceu água e amêndoas para ela. Acauã ouviu o grupo chamando por Moema.
- Tamoio! – respondeu Acauã.
Ele gritava o nome e ficava em silencio buscando por uma resposta. Um som abafado pronunciava o nome de Moema. Eles deviam estar em apuros! Acauã viu o helicóptero do corpo de bombeiros sobrevoando a mata. Imaginou que os rapazes do Tamoio saberiam que estavam à procura do grupo. Mesmo assim decidiu ir ao encontro do grupo. Linna ficou com Moema.
Acauã encontrou as marcas que Moema havia mencionado, seguiu a trilha e viu o grupo de amigos parados entre a mata e a margem do rio. Eles não estavam muito longe de Moema, mas num local de difícil acesso.
- Vocês estão bem? - Acauã gritou para eles.
- Quem está ai? - perguntou um dos rapazes.
- Acauã, eu sou irmão da Moema, disse ele.
- Como ela está? – perguntou outro rapaz.
- Bem, vocês conseguem vir até aqui? - Acauã iluminou o caminho com a lanterna.
- Um dos nossos está com a perna quebrada e estamos presos – um deles respondeu.
- Eu vou até aí! - informou Acauã.
Ele fez contato com Eliseu e informou o que estava acontecendo. O guarda disse lhe que o helicóptero tinha pousado onde estavam Linna e Moema. Acauã falou que estava vendo o grupo e que iria se aproximar, se desse levaria eles até o helicóptero.
Quando se aproximou viu que estavam tremendo de frio, assustados e quase sem voz de tanto pedir socorro. Magrão estava com a perna quebrada. O grupo ficou feliz em ver Acauã, disseram que Boy e Bil prenderam eles uns aos outros e a uma árvore e depois fugiram.
Acauã soltou os cinco rapazes e perguntou se eles achavam que conseguiam caminhar até a cachoeira. O helicóptero não teria como pousar ali. Ou eles iam até lá ou esperavam amanhecer e chegar um novo grupo de socorro.
- Vamos logo - respondeu Topeira – nós podemos nos revezar e levar o Magrão.
- Eu ajudo, disse Acauã, mas tenho que cuidar o caminho. Procurem não escorregar.
- Certo – respondeu Esquilo – você tem água?
- Tenho - respondeu Acauã. Tomem aos poucos, por que só tenho este cantil.
O grupo seguiu pela mata, os bombeiros vieram ao encontro deles logo que os avistaram. Já haviam levado Moema, Linna, Princesa e os filhotes sãos e salvos para a pousada.
Eram três horas da manhã quando o helicóptero concluiu o resgate. Pauline havia feito uma canja de galinha e fogo na lareira, para aquece-los.
Acauã abraçou Moema aliviado, não iria se perdoar se algo tivesse acontecido com ela. Só restava saber: - onde estava Josefina?







A Araucária chamou pela feiticeira. III Capítulo
Linna estava cansada, mas não conseguia dormir. Estavam todos juntos no saguão da pousada. Acauã aquecia Moema, com cobertores e mantendo o fogo da lareira aceso. Os rapazes do grupo Tamoio foram levados pelos bombeiros para o hospital mais próximo, estavam desidratados. Janete, Oscar e Tadeu dormiam no sofá. Armando dormia sentado em uma das poltronas. Murilo tinha voltado para a cidade, para encontra com a família. E Gi e Andressa estavam acordadas tentando acalmar Pauline, ela estava muito nervosa, pois tinha ficado de responsável por Josefina. Os outros hóspedes nem sabiam o que estava acontecendo dormiam tranqüilamente em suas cabanas.
A cacique Tibiriçá, pai de Moema e Acauã, avisado do sumiço da filha veio para a pousada ajudar nas buscas. Mas, quando ele chegou, Acauã já tinha encontrado ela.
Ele chamou Acauã e disse que a Velha Feiticeira estava na mata, por um chamado da Grande Araucária.
- Como o senhor sabe? - ele perguntou.
- Encontrei a gralha azul que ela comprou de você. Estava caída próximo à entrada da porta de luz da mata.
- Mas ela é muito idosa, eu e Linna procuramos por todos os lugares, como não encontramos? Josefina não pode ter ido muito longe!
- Acauã, tem coisas que os olhos não enxergam, só o pensamento – o cacique falou com a voz firme - é preciso acreditar! Ver com a alma!
- Esse povo da cidade não vai entender. Podem achar que temos alguma coisa com isso - respondeu preocupado, Acauã.
- Essa moça, Linna Franco? - perguntou Tibiriçá.
- Que tem ela? - indagou Acauã.
- Você gostou muito dela, não foi?- o cacique enquanto falava observava a reação de Acauã.
- Ela é meiga, inteligente, guerreira, precisava ver como foi forte na mata. Mas por que?
- Ela é da cidade, tem outra cultura, outro pensamento – Tibiriçá falou em tom de advertência – cuidado! O seu coração pode se ferir.
- Nós somos apenas amigos. Quando isso tudo passar ela vai embora e eu fico.
Acauã olhou para Linna, Tibiriçá tinha visto a admiração que ele estava sentindo por ela. O cacique era a pessoa mais importante de sua tribo, todos tinham muito respeito e amor por ele, sua impressão sobre as pessoas era muito considerada.
- Ela vai embora e leva um pedaço do seu coração e você fica com um pedaço do coração dela - falou o cacique, num tom mais carinhoso. – Vocês só vão ser felizes quando as partes se juntarem novamente, ou quando o tempo fizer um remendo. Mas nunca mais o coração fica o mesmo!
- Tá bom, eu vou me afastar dela, disse Acauã,encerrando a conversa. E quanto a Josefina, o que podemos fazer?
- Esperar na Grande Araucária - respondeu Tibiriçá. Eu tenho que voltar para casa, hoje é domingo, tem muita gente visitando a aldeia. Você, Moema e Linna Franco voltem pra lá, levem o chá da feiticeira e os pinhões, com a água de cozimento. Esperem o tempo que for preciso, não tenha pressa e não diga nada para a moça branca, não fale sobre nossos segredos, não ensine sobre a mata, não leve mais ninguém.
- Eu vou tentar, eles são muito unidos, vão querer ir junto - ponderou Acauã.
- Ache coisas importantes para eles fazerem aqui. – determinou Tibiriçá - Você vai levar duas jóias para a mata, cuide bem delas. Eu confio muito em você meu filho.
- Mas então o senhor gostou da Linna?
- Sim, é uma pessoa boa, bonita, corajosa, mas de outro povo. Só isso, não tenho nada contra ela. Só não quero o meu guerreiro caído por uma tristeza.
- Sim, senhor – respondeu o jovem.
Acauã ficou encabulado com os comentários do pai, estava gostando de Linna, de seu jeito atrevido e meigo ao mesmo tempo. Alguma coisa nela mexia com ele, mas ao mesmo tempo o deixava vulnerável, o cacique era realmente sábio.
Tibiriçá partiu, levando Princesa e os filhotes. Acauã chamou Moema e Linna e disse que precisava voltar a Grande Araucária, pediu para Pauline ficar com os outros e aguardar pela polícia, o caso de Josefina estava nas mãos deles.
Pauline serviu um café quente com pães e geléia para eles. Linna topou imediatamente voltar para a mata, Moema ficou um pouco arredia, estava cansada e com frio. Mas quando Acauã disse que se tratar de uma ordem do Cacique, ela resolver obedecer imediatamente. Perguntou se tinha a ver com Josefina. Acauã disse que achava que era sobre os animais.
- Será que eles machucaram mais algum? – indagou Linna.
- Tibiriçá ordenou voltássemos lá, levando o chá e os pinhões que Josefina cozinhou. Talvez sirvam para curar algum bichinho ferido...
Linna e Moema o acompanharam sem fazer muitas perguntas, o sol já havia nascido, eles entraram mais uma vez na mata.























Tamoio o pequeno guerreiro. IV Capítulo
Naquela manhã de domingo o som da mata era de alegria. A chuva havia parado. O frio estava mais intenso do que no dia anterior. Linna, Moema e Acauã caminhavam lentamente pela trilha, pois a noite exigira muito deles.
- O que eu fiz, Acauã? - perguntou Linna.
- Como assim? - ele respondeu.
- Você parece distante, está frio comigo - ela continuou.
- Bobagem, eu estou cansado e preocupado também, não entendi algumas coisas que Tibiriçá me falou.
- O Cacique é assim, às vezes ele diz uma coisa, mas que significa outra, disse Moema. O que ele lhe falou?
- Nada... Deixa pra lá respondeu ele.
- Mas, foi sobre mim? Perguntou Linna.
- Não, foi sobre mim. Respondeu Acauã.
- Você foi um guerreiro está noite, mostrou que tem força, determinação e principalmente que o seu coração é bom, disse Moema. Aposto como Tibiriçá viu algo no seu caminho.
- Eu achei Tibiriçá um homem justo e ao mesmo tempo severo - disse Linna.
- Como todo bom líder - respondeu Acauã. Agora vamos apurar o passo, acho que andar devagar é mais cansativo.
O grupo seguiu calado Linna notou a mudança no jeito de Acauã, ele continuava cuidadoso com ela, mas mais arisco. Ela respeitou sua atitude apesar de não entender muito bem, estava gostando de ter Acauã como companheiro de jornada, ele inspirava confiança e era inteligente, Linna sentiu que alguma coisa havia mudado. Ela refletiu e concluiu que não tinha feito nada que justificasse a mudança de atitude dele. Decidiu não esquentar mais com isso.
Linna aproveitou para prestar atenção no caminho, já estava se familiarizando com a mata, mesmo que eles estivessem traçando uma outra trilha.
Moema estava aquecida e parecia mais animada. Foi a primeira a chegar na Grande Araucária.
Para a surpresa de todos Esquilo, Gaudério, Topeira, e Fred esperavam por eles.
- Como vocês chegaram aqui? - perguntou Acauã.
- Encontramos com o Cacique Tibiriçá, ele mandou que viéssemos. Deixamos o Magrão no hospital e seguimos a orientação que ele nos deu - respondeu Esquilo.
- Agora quem não está entendendo sou eu - disse Moema - o Tibiriçá não é de convocar estranhos.
- E eu? - perguntou Linna. - Ele também pediu para que eu estivesse aqui. Por que vocês estão com estas roupas?
- Este é o uniforme de treino do Tamoio - respondeu Topeira.
Eles usavam calça de abrigo branca e uma túnica da mesma cor, com o símbolo do clube bordado. Linna notou que a roupa parecia muito com as que Pauline tinha emprestado para Acauã e Moema. E que ela também estava vestida de branco. Seria coincidência?
- A roupa de vocês combina com a pele e o cabelo da Linna: branco, preto e vermelho, brincou Acauã. Agora que estamos todos aqui, o que o Cacique pediu para vocês?
- Para aguardarmos e termos paciência - respondeu Fred.
- Para mim ele pediu a mesma coisa, disse Acauã.
Acauã juntou os restos de embalagens e a caixa que os caçadores tinham deixado para trás, colocou as coisas que Tibiriçá tinha pedido sobre a caixa: o chá que Josefina havia preparado e os pinhões com a água de fervura. Os outros vendo que ele estava organizando o ambiente trataram de ajudar. Acauã estava deixando tudo da forma mais natural possível.
Ouviram o som de tambores, Acauã e Moema ficaram em pé e em posição de sentido, os braços ao lado do corpo, a cabeça erguida e o peito estufado. Como se estivesse ouvindo um hino. Os rapazes do Tamoio pintaram o rosto com listas pretas e vermelhas.
- Que som foi este? - comentou Linna.
- O chamado das tribos – respondeu Moema e prosseguiu explicando - quando tem visitantes na aldeia o cacique faz a apresentação de nossos hábitos culturais, para que eles conheçam um pouco da nossa cultura.
- Pena que não estamos lá – indagou Fred - eu gostaria de conhecer a aldeia.
- Quem sabe? Vocês voltam num outro dia - respondeu Acauã .
O grupo conversava animadamente, trocando experiências.
- Por que vocês pintaram o rosto? - perguntou Moema para os rapazes.
- É um hábito do nosso grupo, sempre que tem alguma coisa importante pintamos o rosto com as cores do Tamoio - respondeu Fred.
- Os Tamoios eram guerreiros, falou Gaudério. Existem várias lendas sobre eles.
- Tibiriçá sempre conta histórias deles - respondeu Moema - suas tribos foram extintas há muitos e muitos anos...
- Só que o nome e a memória dos feitos deles estão guardados, disse Fred.
O sol indicava que era meio dia, Acauã ofereceu pão feito de farinha de mandioca para eles. Linna tinha azeitonas e damascos secos. Moema colheu cogumelos e os rapazes do Tamoio ofereceram charque, que deixaram de molho na água e ferveram com arroz. A longa espera estava se tornando um exercício de paciência.
Eliseu fez contato informando que Josefina não tinha sido encontrada, mas que a polícia perseguia o grupo de caçadores. Um deles tinha se embrenhado novamente na mata, era o líder e tinha uma serpente tatuada na mão.
- Deste eu lembro bem, disse Moema. Ele tinha uma cara de bandido.
- Será que ele vem para cá? – perguntou Linna.
- Vamos ter que esperar para ver – indagou Acauã.
- Acho que nunca fiquei tanto tempo em um lugar só -comentou Fred.
- Se vocês quiserem voltar podem ir. Eu não saio daqui antes do Tibiriçá mandar um sinal, disse Acauã.
- Nem eu! - concordou Moema.
- Eu vou deitar um pouco, disse Linna, se acontecer alguma coisa vocês me chamam? Estou sentindo uma moleza no corpo.
- Chamamos, disse Moema.
- Nós estaremos aqui, falou Acauã, sentando-se ao seu lado.
Linna e Acauã adormeceram ao pé da Grande Araucária, os sons da mata foram ficando abafados, eles sentiram como se seus corpos flutuassem. O frio desapareceu. Seus espíritos pareciam soltos na mata, flutuavam e pareciam ter subido para o alto da Grande Araucária. Os amigos ficaram pequenos e distantes.
A copa da Araucária tinha o formato de um círculo, os galhos formavam uma planície coberta de esmeraldas, como a superfície de um cálice. Pingos de luz transpassavam de baixo para cima. Josefina e Tibiriçá esperavam por Linna e Acauã: O Conselho dos Anciãos estava reunido. A Grande Araucária brilhava no centro de todos.
- Olá! – disse a Gralha Azul, sorrindo para eles.
Era linda tinha o tamanho de Tibiriçá e Josefina, seu corpo era coberto por uma luz azul escura, os olhos pretos e brilhantes. Linna e Acauã cumprimentaram a ave. Estavam num lugar repleto de magia e cores.
- O que está acontecendo? - perguntou Linna.
- Os outros estão em perigo? - indagou Acauã.
Josefina olhou para os dois e pediu que cada um ocupasse uma das poltronas. Disse que não precisavam se preocupar, pois Moema e os Tamoios guardariam a mata. Eles sentaram-se em grandes poltronas feitas dos galhos da Araucária, que eram macias e confortáveis.
- Vocês estão no Conselho dos Anciãos - Explicou Tibiriçá - Aqui estão reunidos líderes de todos os povos e de todos os tempos. Vocês são parte do futuro do conselho...
- Estamos preocupados - disse Josefina - contamos com vocês para combater a destruição do Planeta para que a natureza chegue até o futuro.
- Como podemos ajudar? – indagou Acauã.
- Guiando as pessoas - respondeu a Grande Araucária - estando unidos pelas forças do bem fazer.
- Por que nós? - perguntou Linna.
- Vocês são como Yin e Yang duas forças complementares que integradas mantém a harmonia do universo - explicou Tibiriçá. Ou como a lua e o sol; à noite e o dia; a semente e a terra, o branco e o preto...
- E o que você me disse pela manhã? - perguntou Acauã.
- Eu queria que você olhasse para Linna e para si mesmo e encontrasse esta harmonia. Esta força de atração e retração, disse Tibiriçá.
- O jovem Guerreiro Tamoio despertou o conselho ontem quando olhava o Arco-íris – informou Josefina. Eu fazia o chá na pousada e ouvi o chamamento da Grande Araucária.
- O Tadeu é um Tamoio? - perguntou Linna.
- O jovem viu, nas gotas de água do Arco-íris, refletido o espírito da mata e soube guardar o segredo. Foi ele que viu os caçadores e adivinhou o perigo. Aquele homem que tem a serpente desenhada na mão é muito perigoso, disse a Gralha Azul. Espíritos iguais a ele destruíram as matas e florestas do Planeta e depende de nós, ou dos iguais a nós reverter este processo e salvar a natureza.
- O que devemos fazer além de guiar as pessoas? - questionou Acauã.
- Buscar o equilíbrio - respondeu Josefina. Eu preciso retornar antes que mais gente entre na mata a minha procura... Vocês vão me encontrar na aldeia de Tibiriçá, vão lembrar disso tudo como um sonho. Mas não esqueçam de sua missão: ajudar o Pequeno Guerreiro Tamoio e encontrar o equilíbrio das forças.
Acauã e Linna acordaram estonteados, lavaram o rosto e procuraram organizar os pensamentos. Não comentaram nada sobre o sonho.
Eliseu tinha informado a Moema que Josefina estava na aldeia deles e que Tibiriçá tinha dado instruções para irem resgatá-la.
Decidiram deixar o chá de Josefina e os pinhões. Ainda não sabiam bem para que serviriam.
Partiram apressados para a aldeia, queriam retornar logo, com Josefina seria difícil, já que ela devia andar muito lentamente. Estavam felizes, pois tudo parecia estar sendo resolvido.
O grupo andava com agilidade e leveza chegando a aldeia em pouco tempo. Josefina abraçou demoradamente Linna, disse que alguns homens tinham entrado na cabana e lhe levado com eles. Estavam num Jeep, tinham prendido um leão baio e queriam derrubar a Grande Araucária.
- Mas isso é muito grave, disse Acauã.
- Parece que a polícia já prendeu alguns deles, falou Tibiriçá.
- Por que a Grande Araucária? - perguntou Fred.
- Tem maluco pra tudo - disse Josefina. Como vamos saber?
- Vamos para a pousada, a sua família deve estar muito preocupada.- Linna deu mais um abraço apertado na amiga.
- Acauã e Moema vão leva-los, disse Tibiriçá.
O grupo partiu imediatamente, caminho de volta a pousada foi rápido. Os Tamoios levaram Josefina em uma rede.




O combate final. V capítulo.
De volta a pousada parecia que a aventura chegava ao fim. Renato estava ansioso para levar a turma em segurança para a cidade. Pauline não queria nem cobrar a hospedagem deles, devido às confusões.
Colocaram todas as suas coisas no micro ônibus e Linna disse que voltaria em breve, queria aproveitar melhor aquele lugar maravilhoso. Os rapazes do Tamoio estavam se despedindo deles quando reconheceram Tadeu, ele tinha treinado no clube durante dois anos. Era um dos melhores alunos de Gaudério.
Murilo estava de volta, com vários familiares, todos apavorados e preocupados com Josefina. Ela tratou de aclama-los e disse que apesar das confusões estava contente de ter vindo.
Enquanto todos conversavam Josefina chamou Acauã e Linna e disse que voltaria com a família para Porto Alegre, mas que sabia que eles tinham uma missão importante para cumprir na mata. Pediu para que eles ficassem de frente um para o outro, aproximassem as palmas das mãos e tentassem sentir a força da natureza.
- Eu sempre estarei onde for preciso, disse ela. Mesmo na cidade minha energia pertence ao verde.
- Você está falando do Conselho de Anciãos? - perguntou Linna.
- Então não foi um sonho? - interrompeu Acauã.
- Não. Fechem os olhos - ordenou Josefina. Não afastem as mãos por nada, mantenham silêncio. Ouçam os sons da mata e dos seus próprios corações... Eu vou embora, fiquem assim até o momento em que forem liberados. Confiem em mim, vou dizer para Renato que Linna foi comigo.
Os dois amigos aceitaram as ordens dela, estavam sozinhos nos fundos da cabana, na porta de luz da mata. Acauã era bem mais alto do que Linna, eles ficaram imóveis na posição que ela pediu, um em frente ao outro, com as palmas das mãos próximas, mas sem se tocar. Podiam sentir a respiração e o perfume um do outro, mantiveram os olhos fechados e o coração sereno.
Uma música suave invadiu a suas mentes, como se fosse um Mantra. A noite caiu e os dois continuaram imóveis esperando. Linna cansou, seus pés formigavam, mas não disse nada. Uma onda de calor se formou entre suas mãos.
Pela memória!
Despertem os guerreiros
Despertem os sábios
Despertem os corações.
Linna e Acauã despertem!
Entre as palmas das mãos deles uma bola de luz se formou. Seus rostos foram iluminados, seus corpos aquecidos, suas almas unidas. Estava aberta a porta de luz da Mata.
O tempo deixou de existir! Linna e Acauã foram distanciando suas palmas e a luz foi se abrindo, envolvendo seus corpos, a pousada, a mata.
Tudo estava sereno e revigorado. Foram atraídos novamente para a copa da Grande Araucária. Encontraram todos lá: os Tamoios, Oscar, Janete, Gi, Andressa, Pauline, Eliseu, Moema, Renato, Murilo, Armando. Princesa e os filhotes, o tatu, o leão baio, os pássaros, as borboletas. Formavam um grande círculo com a Grande Araucária no centro, ao seu lado a Gralha Azul, Tibiraçá e Josefina.
Tadeu, o pequeno Guerreiro Tamoio, estava vestido com uma calça branca, uma bata da mesma cor e tinha no rosto listas vermelhas e pretas. No cabelo usava uma faixa branca. Ele estava em pé no centro do circulo. O chão de esmeraldas parecia mais claro do que antes. Linna e Acauã foram convidados a juntarem-se a ele.
- O Conselho dos Anciões convocou esta Assembléia para juntos ajudarmos a mata, disse a Grande Araucária.
- Aqui estamos em outro plano, no qual a matéria é energia pura, disse Tibiriçá. Não podemos interferir na vida terrena. Por isso solicitamos a ajuda de vocês.
Acauã e Linna não falaram nada, sabiam que não precisavam perguntar, pois todas as suas dúvidas seriam esclarecidas.
- A mata precisa ser reconstituída. Disse a Gralha Azul, como a minha gente vem fazendo com a Araucária há mais de quinhentos anos... Os campos e vales precisam de paz. O homem precisa se integrar novamente com a natureza. Neste momento o homem que tem a serpente desenhada na palma da mão ameaça a mata. Ameaça este conselho. Vocês precisam ajudar, é chegada à hora.
- Meus filhos! A Assembléia estará reunida aqui, pedindo forças para o universo, forças para que vocês tenham êxito, falou Josefina. Eu convoco: Acauã, A Ave que ataca serpente; Linna franco a Força Branca; Gi, a força dos Lanceiros Negros e Tadeu, o Jovem Guerreiro Tamoio, que a partir de agora vai atender pelo nome de seu povo, ele trás a memória dos velhos e que vai guiá-los, para salvarem a Mata Atlântica da destruição.
Gi saiu do círculo e se juntou aos amigos no centro. Cada um recebeu um amuleto de madeira. Seus espíritos foram fortalecidos pelas orações dos membros da assembléia.
Atravessando o arco-íris entraram na clareira da Grande Araucária. Não havia estrelas e nem lua no céu. Os animais faziam silêncio. O Altar que Acauã tinha feito estava lá.
Tamoio pediu a eles que ficassem atentos, estava sentindo o cheiro do intruso. E ele não parecia estar só.
- Se eles estiverem armados? O que faremos?- perguntou Linna.
- Nossas armas vão ser a inteligência e o domínio da mata - respondeu Acauã.
- Vamos formar a defesa! – declarou Tamoio. - Eu sei, pelo que a Gralha Azul falou, que a intenção dele é a de derrubar a Grande Araucária, já que ela contém a memória da mata. Tibiriçá me informou que Linna e Acauã são o equilíbrio, então eu quero que vocês guardem o tronco da árvore. E Gi, com sua força e agilidade fica comigo na entrada da clareira. Os animais vão proteger os flancos. Então eles só poderão entrar por aqui.
Gi usava uma longa túnica branca e os cabelos presos por uma fita vermelha, ficou ao lado de Tamoio, pronta para o que viesse. Uma brisa suave trazia noticias dos intrusos: estavam chegando.
O homem que tinha a serpente desenhada na mão atendia pela alcunha de Carcereiro, aproximou-se rapidamente, com mais dois bandidos.
Tamoio reconheceu Boy e Bil. Logo atrás deles, duas mulheres carregavam uma serra à gasolina, pareciam hipnotizadas, andavam caladas e sem nenhuma expressão no rosto. Os bandidos pareciam dispostos a tudo.
Gi e Tamoio estenderam uma corda na entrada da Clareira, queriam pegá-los desprevenidos e acabar com o problema o mais rápido possível.
- Avante! Gritou Carcereiro. Estamos Chegando, Boy e Bil entrem na frente!
Eles marchavam determinados e sem medo, falavam alto e batiam os pés com força contra o chão.
Tamoio fez um sinal para Gi e estenderam a corda, quando os bandidos tentavam entrar foram surpreendidos, eles caíram de cara no chão. Carcereiro era mais esperto e entendendo o que aconteceu, pulou a corda.
Gi saltou sobre Boy e Tamoio sobre Bil, a luta foi acirrada. Tinham pressa, não queriam que Carcereiro avançasse na clareira. Linna e Acauã mantiveram suas posições. Tinham que confiar nos amigos, mesmo que a primeira defesa falhasse não podiam deixar o tronco da árvore sem proteção.
Tamoio ergueu Bil jogando-o contra Carcereiro, que logo reagiu atacando o guerreiro. Gi derrubou Boy e com a corda prendeu seus braços, indo atrás das duas mulheres. Elas tentaram ataca-la com a Serra, mas como ela era muito ágil, conseguiu escapar.
Tamoio lutava contra Bil e Carcereiro, levando vantagem, mas estavam invadindo a clareira. As nuvens se abriram no céu, e a lua cheia iluminou a árvore, Linna e Acauã guardavam suas posições, mesmo que o impulso deles fosse o de entrar na briga.
Gi e Tamoio seguraram os bandidos por um tempo, mas Carcereiro sacou uma arma que trazia nas costas. Atirando para todos os lados, atingiu uma das mulheres. Tamoio e Gi conseguiram proteger-se dos tiros, mas tiveram que se esconder.
Carcereiro pegando a serra avançava como uma fera em direção a Grande Araucária. Tamoio correu em sua direção.
- Eu vou destruir a Mata! - ele gritava, suas narinas estavam dilatadas e seus dentes cerrados. O ódio tomou conta dele. Ergueu a serra investindo contra Linna e Acauã.
- Aqui você não passa. - Acauã respondeu.
- Saiam da minha frente ou eu corto a árvore e vocês - ameaçou Carcereiro.
Tamoio e Gi seguravam os outros, Bil puxou uma faca, entrando em uma luta desigual com Gi, que usava o seu amuleto para se defender.
- Recue! Disse Linna. Nós estamos aqui para defender a Grande Araucária.
Carcereiro parecia ter uma força descomunal, investiu contra os dois usando a serra. Acauã conseguiu tirar a arma de suas mãos, Linna notou que a serpente na mão do bandido brilhava mais com a luz do luar. Carcereiro e Acauã lutaram com animais, Linna usou seu amuleto para destruir os mecanismos da serra.
Tamoio e Gi conseguiram prender os outros bandidos e foram no auxílio de Acauã e Linna. Estavam indo bem até que Carcereiro bateu em Acauã com uma pedra e ele perdeu os sentidos. Tamoio entrou em defesa do amigo, enquanto Gi e Linna puxaram Acauã para perto do tronco da Grande Araucária, o sangue escorria em sua cabeça. Linna ficou com ele e Gi foi ajudar Tamoio, o inimigo parecia imbatível.
Linna usou o chá de Josefina para limpar a testa de Acauã, uma lágrima correu em seu rosto caindo na boca dele. O ferimento parou imediatamente de sangrar, mas o corpo de Acauã continuou imóvel, uma máscara negra apareceu em torno de seus olhos, uma luz era emitida por ela, com a forma de uma ave de rapina.
A ave se projetou para fora do corpo de Acauã e voou atacando a serpente que estava desenhada na palma da mão de Carcereiro. Ele soltou um grito de dor.
Tamoio viu a ave removendo a serpente, Carcereiro perdeu a sua força e caiu no chão.
A ave e a Serpente brilhavam mais com a luz da lua. Tinham a mesma estatura de Acauã e Carcereiro, ficaram uma em frente à outra, enfrentando-se.
Linna banhava o rosto de Acauã com o chá, tentando reanima-lo. Ele abriu os olhos, mas estava sem força e com o olhar vazio. Ela sabia o que fazer, aproximou as palmas de suas mãos com as dele e pediu a força do universo. Gi perguntou a ela como poderia ajudar.
- Você deve jogar os pinhões com a água na mão do Carcereiro. Assim a serpente não poderá voltar para ele e estará livre da prisão.
Gi pegou o recipiente onde a mistura estava, enquanto Tamoio segurou a mão de Carcereiro, que tentava reagir, mas não conseguia, eles jogaram a mistura na cicatriz deixada pelo bico da ave. Os pinhões formaram uma capa envolvendo a mão do bandido.
Naquele momento a serpente foi escurecendo, perdendo o brilho e a cor vermelha dos olhos, tentava voltar para a mão do bandido, mas caiu no chão e saiu em direção da mata como uma cobra comum.
A ave fechou os olhos e como um raio de luz voltou ao corpo de Acauã. Ele recuperou totalmente os sentidos. Mesmo estando fraco ergueu-se. Segurando as mãos de Linna os dois rodopiaram, formando uma corrente de energia... A força deles varreu com os bandidos para fora da mata.
A Grande Araucária não corria mais perigo. O Conselho dos Anciãos estava seguro, os segredos da mata também.
O tempo voltou a correr.
Com o som de um apito, Linna e Acauã retornaram ao mesmo lugar onde estavam, os fundos da cabana onde Josefina tinha ficado na pousada. Não sabiam se o que tinham vivido era verdade ou sonho.
Renato apareceu chamando Linna, disse que todos estavam no ônibus, só faltava ela.
- Vamos logo Linna, eu não sei o que está havendo com este grupo. Não vejo a hora desta expedição acabar! – disse ele colocando as mãos na cabeça.
- Eu já vou, ela disse.
- Adeus, Linna Franco - Acauã passou a mão em seu rosto com suavidade..
- Adeus, Acauã – respondeu ela – um dia eu volto...
Renato estava parado esperando. Linna não queria, mas precisava ir embora.
Os dois se aproximaram e trocaram um longo e delicado beijo.
Linna foi para o ônibus com o coração apertado. Acauã de longe acenou para o grupo de novos amigos.
Quando o ônibus partiu ele viu que Tadeu e Gi usavam as fitas. Teria sido Verdade?
Linna sorria na fotografia que Acauã guardou próximo ao coração. Acauã sorria na flor que Linna guardou próximo ao coração...
E a terra continuou girando, girando...

9 de ago. de 2015

Sete anos de labuta para tingir cem mil acessos.

Meu Blog www.fernandablaya.blogspot.com.br atingiu 100.000 visualizações, escrevo nele desde 04/05/2008, sete anos, 790 postagens entre prosa, verso e prosa do cotidiano.

Entrada Visualizações de página
Estados Unidos
75264
Brasil
19235
Rússia
1505
Portugal
699
Alemanha
686
Malásia
351
África do Sul
183
Taiwan
164
Ucrânia
133
França
84

Isso para muitas pessoas não configura um trabalho, mas para mim sim. Tem bons textos e textos não tão bons, mas livres. Minha obra infanto juvenil www.linnafranco.blogspot.com.br tem poucos 7000 acessos, muitos não são leitura, mas mesmo assim tem um longo trabalho nestes simples dados.
Essa escrita livre, informal e não oficial  é algo para o futuro...
Estou contente de ultrapassar as cem mil visualizações, mesmo que a maioria deva ser feita por algum tipo de robô, me sinto parte do futuro porque ele está sendo construído artificialmente o tempo inteiro. O Ser Humano levou milênios desenvolvendo a linguagem e hoje a linguagem voltou a ser figurativa, como no tempo das cavernas e acessível a todos. A falsa ideia de que o Conhecimento Acadêmico ou elitizado é superior cai com um simples rosto sorrindo que qualquer pessoa entende. O conhecimento deixa de ser um divisor de águas entre as pessoas, estamos numa era em que estudar, conhecer, aprimorar a si mesmo  será uma opção de vida não uma forma de opressão e de dominação. Feliz Dia dos Pais